Guerra em Gaza: EUA defendem Israel em caso sobre bloqueio de ajuda humanitária

Guerra em Gaza: EUA defendem Israel em caso sobre bloqueio de ajuda humanitária

Na quarta-feira (30), o governo dos Estados Unidos apresentou sua defesa perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia, argumentando que Israel tem o direito de bloquear a entrada de ajuda humanitária proveniente de organizações que considera “parciais”. O alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA, Josuah Simmons, levantou questões sobre a imparcialidade da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), que presta assistência a milhões de palestinos, incluindo refugiados em Gaza.

De acordo com Simmons, a legislação internacional permite que uma potência ocupante, como Israel nos territórios palestinos, decida as condições em que a ajuda humanitária pode ser fornecida. Para os Estados Unidos, Israel não tem obrigação de permitir que a UNRWA atue na região, já que a agência é vista como comprometida, especialmente por acusações de envolvimento com o Hamas, grupo considerado terrorista por Israel e outros países. No entanto, Israel não forneceu provas conclusivas de suas alegações, mesmo após uma investigação independente da ONU.

O argumento dos EUA difere substancialmente da posição de outros países, como a Rússia, França e Brasil, que se manifestaram durante as audiências e afirmaram que a ajuda humanitária deve ser permitida sem restrições. A Assembleia Geral da ONU, que moveu a ação contra Israel, busca um parecer jurídico da CIJ sobre as obrigações de Israel de permitir a entrada de suprimentos essenciais para a sobrevivência da população civil palestina.

Israel impôs um bloqueio completo à entrada de ajuda humanitária desde outubro de 2024, afetando cerca de 2 milhões de pessoas em Gaza, que enfrentam uma crise humanitária profunda. A UNRWA, por sua vez, informou que possui mais de 3 mil caminhões carregados com suprimentos prontos para entrar na região, mas sem a permissão de Israel. Desde o início da guerra, mais de 290 membros da UNRWA foram mortos e diversas instalações da agência foram atacadas.

Na audiência, Simmons também ressaltou a discricionariedade de Israel para equilibrar a assistência humanitária com suas preocupações de segurança, defendendo a ideia de que os interesses militares e humanitários devem ser conciliados em situações de ocupação. No entanto, ele solicitou que a CIJ não se pronunciasse sobre a necessidade de Israel facilitar a ajuda humanitária, argumentando que a questão não exigia uma revisão das obrigações de uma potência ocupante.

Por outro lado, representantes de vários países e organizações internacionais, como a Rússia e a França, destacaram o papel fundamental da UNRWA no apoio ao povo palestino e a necessidade urgente de garantir a entrada de ajuda em Gaza. A Rússia chamou a UNRWA de um “símbolo da responsabilidade coletiva da comunidade internacional” para com os palestinos, enquanto a França pediu que as restrições à ajuda humanitária fossem suspensas imediatamente, argumentando que todos os pontos de passagem devem ser abertos e a segurança dos trabalhadores humanitários deve ser garantida.

Em um cenário tenso e polarizado, a audiência da CIJ segue até sexta-feira (2), com a participação de cerca de 40 países e quatro organizações internacionais. O julgamento deve gerar novos desdobramentos sobre o direito de Israel de bloquear a ajuda e sobre o futuro das negociações de paz na região.

O governo israelense, liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, reafirmou que a ajuda só será permitida em Gaza após a rendição total do Hamas e a devolução de todos os reféns ainda sob seu poder. Para Netanyahu, qualquer ajuda destinada à população de Gaza enquanto o Hamas estiver ativo seria uma forma de apoio ao grupo.

Enquanto isso, o Hamas continua insistindo que a liberação dos reféns depende do cumprimento do acordo de cessar-fogo negociado em janeiro. O impasse sobre a ajuda humanitária e os direitos dos palestinos segue a ser uma questão central nas discussões internacionais.

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