Enchentes no RS: um ano depois, centenas de pessoas ainda dependem de abrigos temporários
O Rio Grande do Sul ainda vive as consequências da maior catástrofe climática da sua história, completando um ano das enchentes que afetaram milhares de pessoas. Atualmente, cerca de 380 pessoas continuam abrigadas em unidades provisórias no estado, muitas delas enfrentando dificuldades para reconstruir suas vidas e encontrar uma moradia definitiva.
Um dos casos mais emblemáticos é o de Almerinda Veiga da Silva, de 57 anos, que se viu forçada a abandonar sua casa em Canoas, no bairro Rio Branco, quando as águas invadiram a região. Desde então, ela passou por cinco abrigos diferentes, separada do marido, que foi para um abrigo masculino, e com a filha, que tem Síndrome de Down, em um espaço exclusivo para mães atípicas. Após a enchente, Almerinda perdeu a filha e o marido, que sucumbiram a problemas emocionais e de saúde.
Em entrevista à Agência Brasil, ela desabafou sobre as dificuldades enfrentadas: “Tem um mês que eu pedi minha filha especial, por conta do trauma da enchente. Acarretou danos, digamos, emocionais. Ela era portadora da síndrome de Down. Perdi o marido também por conta da enchente. Ele ficou muito traumatizado, entrou em depressão e acabou falecendo no Natal.”
Atualmente, Almerinda está no Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) Esperança, o único abrigo ainda em funcionamento em Canoas, que abriga 216 pessoas. O centro, em parceria com o governo do estado e a Fecomércio-RS, oferece alimentação, atendimento de saúde, apoio social e serviços como inscrição em programas habitacionais e apoio a animais domésticos. No entanto, o local será desativado até o final de maio, deixando os abrigados em uma situação de incerteza.
Outro abrigado, Claudio Joel Bello, de 43 anos, também tem uma história de espera e angústia. Ele foi atingido pelas enchentes no bairro Mathias Velho, em Canoas, e agora está à espera de uma casa própria através do programa federal Compra Assistida. No entanto, ele reclama da lentidão no processo: “Se o governo me deu minha casa, por que eu vou não vou pra minha casa de uma vez? Tenho quase um ano em abrigo.”
Enquanto alguns abrigados, como Bello, aguardam a entrega de moradias definitivas, outros enfrentam dificuldades logísticas. Almerinda, por exemplo, foi contemplada com um aluguel social, mas ainda não tem móveis para viver na casa alugada. “Eu só vou sair do abrigo quanto tiver meus móveis”, disse ela, destacando a falta de apoio no processo de reestruturação.
Em resposta, a prefeitura de Canoas informou que está construindo 58 casas temporárias no bairro Estância Velha, com conclusão prevista para 15 de maio. Além disso, há programas habitacionais em andamento para a construção de moradias definitivas. No entanto, o processo de reconstrução é lento, e muitas famílias ainda enfrentam dificuldades para se estabelecer em suas novas casas.
Até o momento, o programa Compra Assistida já assinou 1,5 mil contratos de compra de imóveis, mas ainda há uma longa estrada para muitas famílias que, um ano depois da tragédia, continuam lutando para recomeçar.
A situação no estado é um reflexo das enormes dificuldades enfrentadas por quem vive em extrema vulnerabilidade social. Embora os esforços para reabilitação estejam em andamento, a recuperação total ainda parece distante para muitas dessas famílias, que continuam a lutar por um futuro mais seguro e estável.
Share this content:
Publicar comentário