Cardeal Arcoverde: O Primeiro Brasileiro a Participar de um Conclave

Em 1914, o cardeal Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, arcebispo do Rio de Janeiro, fez história ao se tornar o primeiro brasileiro a participar de um conclave no Vaticano, um evento sigiloso que escolhe o novo Papa. Ele foi nomeado cardeal em 1905 e entrou para a história como o primeiro latino-americano a ser inserido no restrito colégio de cardeais da Igreja Católica. A eleição papal em questão ocorreu entre 31 de agosto e 3 de setembro de 1914, e resultou na escolha do italiano Giacomo Battista della Chiesa, que passou a ser conhecido como Papa Bento XV.

Embora não tenha sido considerado um dos papáveis pela imprensa internacional, a presença de Arcoverde no conclave gerou grande frisson no Brasil. O jornal Jornal do Recife, em sua edição de 21 de agosto de 1914, destacou que ele concorreria à eleição, gerando uma onda de esperança no país pela possibilidade de um papa brasileiro. “Ele foi a nossa primeira esperança de um papa brasileiro”, destaca o pesquisador José Luís Lira, referindo-se ao significado simbólico da sua participação, que representava uma forte ligação entre o Brasil e a Igreja Romana.

A participação de Arcoverde no conclave de 1914 foi um feito notável, considerando a dificuldade do deslocamento entre a América do Sul e a Europa na época, onde o transporte dependia exclusivamente de navios. De acordo com Lira, os jornais inicialmente indicaram que Arcoverde poderia não chegar a tempo de votar, mas, com esforço, ele conseguiu chegar a Roma a tempo para a eleição, após uma viagem que incluiu uma passagem pela Espanha.

A nomeação de Arcoverde como cardeal foi o resultado de um movimento estratégico tanto do governo brasileiro quanto da Igreja Católica. Durante o final do período imperial e início da República, o Brasil buscava fortalecer suas relações com a Igreja e garantir um reconhecimento internacional da sua crescente relevância. Esse movimento culminou na nomeação de Arcoverde, que foi o primeiro cardeal brasileiro, um marco para o país e para a América Latina.

Arcoverde, natural de Pernambuco, iniciou sua trajetória religiosa ainda jovem, aos 13 anos, no seminário de Cajazeiras, na Paraíba. Após estudos em Roma e Paris, ele retornou ao Brasil e foi nomeado bispo de Goiás, antes de se tornar arcebispo do Rio de Janeiro em 1897. Seu trabalho como bispo e arcebispo foi crucial para a reconciliação da Igreja com o governo brasileiro após a separação entre Estado e Igreja, estabelecida pela Proclamação da República.

Além de sua atuação dentro da Igreja, Arcoverde também desempenhou um papel importante na política religiosa do Brasil, sendo um dos grandes responsáveis por dois marcos históricos: a oficialização de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil e a construção da estátua do Cristo Redentor, ambos elementos símbolos de fé e identidade nacional.

Embora não tenha participado do conclave de 1922, em que o cardeal Ambrogio Damiano Ratti foi eleito Papa Pio XI, Arcoverde deixou um legado significativo tanto na história da Igreja quanto no fortalecimento dos laços entre o Brasil e o Vaticano. Sua presença no conclave de 1914 e sua atuação como líder religioso e político continuam sendo lembrados como um marco para a história da Igreja Católica no Brasil e na América Latina.