De ícone pop a símbolo de resistência: Lady Gaga une milhões em Copacabana
“Eu nasci assim.” A frase, eternizada na canção Born This Way, ecoa não apenas nas caixas de som dos fãs de Lady Gaga, mas também nas memórias, identidades e trajetórias de quem encontrou na diva pop uma razão para resistir. Com show gratuito marcado para este sábado (3) na Praia de Copacabana, a presença da artista no Brasil se torna um marco de celebração e gratidão da comunidade LGBTQIA+, que a reconhece como símbolo de empoderamento, liberdade e visibilidade.
A relação entre Gaga e seus fãs vai além da música. É íntima, política e transformadora. A produtora de moda e mulher trans Yasmin Gaga, cover da cantora há dez anos, lembra que o álbum Born This Way foi um guia durante sua transição de gênero. “As músicas dela eram meu alicerce de todos os dias. Levar seu legado aos palcos é um ato político”, afirmou após abrir um desfile em homenagem à cantora na Central do Brasil, no Rio.
Organizado por entidades como o Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+ e o programa Rio Sem LGBTIfobia, o evento reuniu drag queens e modelos trans, todas vestidas com referências à estética de Gaga. Para a drag Karina Karão, a chegada da artista impulsionou o mercado da arte drag. “Ela é uma drag. Tudo que é bom incomoda. E ela incomoda”, declarou.
O impacto visual da cantora foi homenageado pela drag Danny D’Avalon com um look inspirado no Met Gala de 2019. “Ela é plural. Isso reflete na gente. Tivemos diversidade nos corpos e nos visuais. A Gaga é isso: pluralidade e expressão”, definiu.
Além da arte, a presença de Lady Gaga toca também no afeto. Fãs como Lucas Braga, de Brasília, contam que a cantora foi essencial para que aceitassem sua sexualidade e reconstruíssem sua autoestima. “Eu achava que era uma pessoa horrível. Ela me salvou. Devo quem sou a ela”, disse emocionado. Lucas tatuou o nome do álbum que tanto o inspirou na perna. Já a confeiteira Clara Santos relata que foi nos versos da artista que encontrou acolhimento ao se assumir lésbica. “Ela me abraçou sem me conhecer”, declarou.
O fenômeno Gaga tomou o Rio. Desde o início da semana, fãs se reúnem em pontos estratégicos como a Rua Senhor dos Passos e a frente do hotel Copacabana Palace. A movimentação foi tamanha que até a comitiva do chanceler russo Sergei Lavrov foi confundida com a da artista. “O Rio é assim mesmo”, ironizou o prefeito Eduardo Paes ao compartilhar o vídeo do episódio.
O show, previsto para começar às 21h15, deve reunir 1,6 milhão de pessoas e gerar impacto econômico de mais de R$ 600 milhões. Desse público, 240 mil são turistas, com predominância de estrangeiros. A expectativa é de uma apresentação histórica, a primeira da artista no Brasil desde 2012 e única na América do Sul este ano.
Por trás da fama e das luzes, Gaga também é ativista. Criadora da Fundação Born This Way, que atua na saúde mental de jovens LGBTQIA+, a cantora já usou sua visibilidade para defender essa comunidade em arenas como Moscou e até mesmo contra o ex-presidente americano Donald Trump. “Pessoas trans não são invisíveis”, declarou ao receber o Grammy este ano.
Para Ernane Alexandre, coordenador do Rio Sem LGBTIfobia, a artista representa mais do que sucesso musical: é inspiração para a formulação de políticas públicas. “Essas divas nos dão alento e esperança. Lady Gaga soma na luta por um mundo melhor.”
No Rio de Janeiro, esse mundo melhor está mais próximo — ao menos por um fim de semana. E para os fãs, isso basta: “Ela nos ensinou que podemos ser quem somos. E isso é tudo.
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