Fenômeno dos pastores mirins divide opiniões sobre exploração infantil e fé

Fenômeno dos pastores mirins divide opiniões sobre exploração infantil e fé

Nos últimos tempos, o Brasil tem sido palco de um fenômeno crescente nas redes sociais: os pastores mirins, crianças e adolescentes assumindo papéis de liderança religiosa e atraindo atenção tanto de admiradores quanto de críticos. Um dos casos mais emblemáticos é o de Miguel Oliveira, um adolescente de 15 anos que se apresenta como missionário e profeta, com mais de 1,2 milhão de seguidores. Sua popularidade aumentou consideravelmente após vídeos polêmicos, como o que afirmava poder curar a leucemia de uma mulher, declarando “Eu rasgo o câncer, eu filtro o teu sangue e eu curo a leucemia”.

Embora Miguel seja um dos exemplos mais conhecidos desse fenômeno, ele não está sozinho. Outros minipastores, inclusive na primeira infância, têm ganhado destaque, gerando controvérsias, principalmente nas redes sociais. Um vídeo viralizou recentemente mostrando um garotinho de terno, gesticulando com dedo em riste e proclamando: “Glorifica o nome do Senhor, porque ele vai abençoar esta multidão linda”. A filmagem foi amplamente compartilhada, gerando críticas e comparações zombeteiras.

Especialistas, como Pedro Hartung, diretor do Instituto Alana, ressaltam que, embora seja positivo que as crianças participem de atividades religiosas, a exploração digital desses menores pode ser problemática. “Quando essa atividade se transforma em um espaço de exploração por meio da sua imagem e presença digital, é necessário refletir sobre os impactos dessa exposição”, alerta Hartung.

Além disso, questões relacionadas à expectativa de performance constante sobre essas crianças, e a monetização de seu conteúdo, geram preocupações sobre o que se configura como trabalho infantil religioso. O apóstolo Estevam Hernandes é taxativo ao afirmar que não é apropriado estimular crianças a se intitularem como pastores, pois isso poderia ser precipitado e perigoso, dada a falta de exemplos bíblicos claros.

A família Ota, por exemplo, com João Vitor, 16, e Esther, 9, apresenta um caso de “pastores mirins” que têm conquistado seguidores, mas com o apoio e supervisão dos pais. Leoncio Ota, o pai, enfatiza a importância de respeitar o desejo da criança, garantindo um acompanhamento espiritual e emocional adequado.

Com a projeção proporcionada pelas redes sociais, esse fenômeno vai além do Brasil, sendo um reflexo de um modelo de infantilização da religião, que remonta até figuras como Kanon Tipton, o pregador mais jovem do mundo, que entrou para o Guinness quando tinha apenas quatro anos.

Esse movimento digital tem dividido opiniões, levando à reflexão sobre os limites da exploração religiosa e a responsabilidade que pais e comunidades têm na formação espiritual e social de seus filhos.

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